O que é o projeto
das matas de minas

Projeto Região das Matas de Minas

Embora grande parte da região aqui denominada Matas de Minas esteja na mesorregião da Zona da Mata, seu povoamento, estrutura fundiária e regime de trabalho têm características históricas distintas das que ocorreram no setor sul dessa mesorregião

Ao contrário da cafeicultura das margens do rio Paraíba do Sul, desenvolvida entre 1830 e 1880 na fronteira entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, caracterizada pela grande propriedade patriarcal, aristocrata e escravocrata, o café das Matas de Minas foi, desde sua origem, produzido predominantemente por pequenos e médios proprietários (incluindo imigrantes estrangeiros) e cultivado em parceria com trabalhadores livres (meeiros), sendo que alguns, com o passar dos anos, lograram transformar-se em sitiantes.

Desde a origem a lavoura do café das Matas de Minas conviveu com a pecuária leiteira e a produção de gêneros agrícolas de subsistência.

Em 1995 o governo de Minas Gerais, por meio da Portaria 165 do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), delimitou quatro regiões produtoras de café no Estado, com a finalidade de instituir certificados de origem e qualidade (ver anexo 3). Nesse ato a região aqui estudada foi reconhecida primeiramente com o nome “Montanhas de Minas”, trocado em 2001 para “Matas de Minas” (Portaria 437).

Entre as organizações de produtores de café existentes hoje nas Matas de Minas há sindicatos (de produtores e trabalhadores), associações e cooperativas (de produção e de crédito).

Entre os anos de 2012 e 2013 foi feito um trabalho de desenvolvimento de liderança  com os objetivos de possibilitar o envolvimento entre as instituições representadas no grupo; o conhecimento de suas perspectivas; quais resultados eles esperavam obter com este trabalho de desenvolvimento e; manter o grupo motivado para a continuidade do trabalho coletivo. Em sua maioria, os encontros aconteceram em Alto Caparaó, envolvendo as seguintes entidades: SICOOB CREDICOOPER, SCAMG, Prefeitura Municipal de São João do Manhuaçu, SEBRAE-MG, Sindicato Rural de Lajinha, Fundação Heringer, Sindicato Rural de Manhumirim, Sindicato Rural de Manhuaçu, COOCAFÉ, COOPARAÓ, SICOOB CREDILIVRE, SICOOB CREDICAFE, produtores rurais, UFV, IWCA BRASIL, EMATER-MG e Prefeitura Municipal de Manhuaçu, dentre outas. Ao longo do processo outras entidades entraram e saíram do projeto. Hoje, as entidades participantes são as que compõem o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas.

Dando sequência ao trabalho de desenvolvimento de lideranças, e como resultado do mesmo, chegou-se à conclusão de que seria aderente aos objetivos do grupo a estruturação e o fortalecimento de um modelo de governança que pudesse gerir de forma legítima a estratégia de diferenciação da Região das Matas de Minas junto aos produtores, entidades e parceiros.

Foi constituído, então, o Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, em julho de 2013, através das entidades participantes do trabalho de desenvolvimento de lideranças. Em 2015 o estatuto do Conselho foi alterado, incluindo no mesmo o Regulamento de Uso da Marca Coletiva, instituindo também o Conselho Regulador dentro do mesmo.

O Conselho Regulador é o responsável por avaliar se os cafés dos produtores estão aptos a receberem o selo de origem Região das Matas de Minas, controlar o seu uso e efetivar o processo de rastreabilidade dos cafés selados.

O local escolhido para abrigar o Conselho foi em Manhuaçu, na sede da Specialty Coofee Association of Minas Gerais (SCAMG), entidade vinculada à Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA) e à Specialty Coffee Association of America (SCAA). A BSCA é a principal associação de produtores de cafés do Brasil. Entre seus associados há grandes empresas de produção e exportação.

Já registrado e instalado, em junho de 2014 o Conselho sistematizou seu programa de ação, composto por cinco itens: (i) criar e fortalecer o Conselho Regulador; (ii) registrar, proteger e regulamentar a marca coletiva “região das Matas de Minas”; (iii) fortalecer a comunicação institucional; (iv) instituir programa voltado para o engajamento dos cafeicultores na produção de qualidade e naturalmente sustentável; (v) e criar selo de origem com sistema de rastreabilidade.

Dois meses depois entrou na pauta da reunião do Conselho a discussão sobre a Indicação Geográfica (IG) para a região cafeeira das Matas de Minas. Enfatizou-se a necessidade de delimitar a área, fazer o levantamento histórico e aprovar o Regulamento, instrumento essencial para caracterizar o produto e seus métodos de produção. Na mesma ocasião foram marcadas as datas para o lançamento da marca coletiva (11 de setembro de 2014).

Em outro contexto atua o Sebrae, que se destaca no estímulo à inovação tecnológica, empreendedorismo, competitividade e gestão de negócios. O Sebrae chegou na região das Matas de Minas com o projeto Educampo Café, mas a partir de 2010 ampliou seu campo de ação.

No que se refere ao fortalecimento da identidade regional, a substituição da denominação Zona da Mata (associada a Rio Zona) por Matas de Minas foi estratégica no sentido de evidenciar que a região, desde a década de 1990, produz cafés diferenciados e de alta qualidade.

No pilar do mercado situam-se os estímulos à comercialização, particularmente a participação em concursos e eventos de negócios, como a Feira Internacional do Café. Esse evento, antes sediado em São Paulo, foi assumido pelo governo de Minas em 2013 (em parceria com a Organização Internacional do Café). Na feira os produtores das Matas de Minas se fazem representar divulgando a marca em stand próprio, onde se pode degustar o café da região, que já conquistou prêmios nesse evento.

No pilar da governança o Sebrae atuou intensamente (sem nunca substituir os protagonistas) na assessoria à organização do Conselho das Entidades do Café das Matas de Minas, o Conselho realizou sua assembleia de constituição no dia 11 de julho de 2013.

O reconhecimento da qualidade dos cafés produzido na região, aconteceu quando começaram a ser bem classificados em concursos lançados por empresas privadas e pelo governo estadual. Em 1995, pela primeira vez, um produtor da região foi finalista de um concurso, o Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café, e então o que era apenas uma suposição tornou-se convicção.

A partir de 2000 os prêmios começaram a chegar sequencialmente. Sérgio Cotrim D’Alessandro conta: “O primeiro café que foi finalista aqui na região foi em 1995 com o professor Renan Werner da Gama, de Manhuaçu. Em 1997 foi o Mauro Garcia Correa, de São João do Manhuaçu; em 2000 a D. Ceci,.

Os principais concursos são da ILLY Café, que é uma das empresas mais importantes do mundo no segmento de café especiais; do governo do Estado de Minas Gerais (via Emater); e o concurso da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). No começo nosso café era muito barato, foi muito tempo discriminado.

Aparecemos nos concursos da ILLY e da BSCA porque os jurados são internacionais e então eles começaram a acreditar que no Brasil há cafés de qualidade”.

Em setembro de 2014, na AABB em Manhuaçu foi realizado o lançamento oficial da Marca Território “Região das Matas de Minas”, em evento aberto a toda a comunidade cafeeira da região.

Em 20016 deu-se início ao processo de estruturação da documentação para solicitação do registro da Região das Matas de Minas como Marca Coletiva, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI. Esta documentação incluiu a elaboração do Histórico do Café das Matas de Minas (parceria com a Fundação João Pinheiro), comprovando a reputação da região na produção de café, a delimitação geográfica oficial da região, (homologada pelo Ministério da Agricultura) e a elaboração do Regulamento de Utilização da marca, através de consultoria especializada. O processo foi avaliado pelo INPI e deferido em maio de 2017.

Para a solicitação de registro da Marca Coletiva Região das Matas de Minas, um dos documentos apresentados, realizado através de consultoria e homologado pelo Ministério da Agricultura foi a delimitação geográfica. Esta delimitação foi construída no início do projeto e aprovada em reunião de conselho.  A mesma constava de 63 municípios em área contínua das regiões Zona da Mata e Rio Doce, compondo o território. A regionalização apresentada não constava o Município de Coimbra. Porém, em 2019, lideranças locais solicitaram a sua inclusão na área delimitada, alegando que o mesmo apresenta características aderentes às dos demais municípios da Região das Matas de Minas. Estas características foram comprovadas através de depoimentos, reportagens e estudos, e apresentadas ao INPI. Em 2020, o Instituto deferiu o pedido e Coimbra passou a compor a Região das Matas de Minas.

Em 2019, complementando a estratégia de fortalecimento e proteção da Região das Matas e Minas foi dada a entrada no INPI do pedido de Indicação Geográfica, na modalidade Indicação de Procedência. Foi necessária a comprovação da reputação da região na produção de café, complementando a documentação protocolada para solicitação do registro. A Indicação de Procedência aumenta o arcabouço legal para a defesa da exclusividade da região e pode ser utilizada como mecanismo de contestação contra o uso indevido da marca Região das Matas de Minas. O processo foi aprovado pelo INPI no final de 2020.

Fonte: HISTÓRIA DO CAFÉ DAS MATAS DE MINAS (1808-2015), produzido por Estado de Minas Gerais, por intermédio da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento – SEAPA, a Fundação João Pinheiro – FJP e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais – SEBRAE-MG no ano de 2017 na cidade de Belo Horizonte-MG.